quarta-feira, 22 de junho de 2011

Projeto de luz para o Espetáculo " A Mais Forte - Direção Deusimar Gonzaga "- teste no Wysiwyg








A MAIS FORTE

Célia Maria Ribeiro

Neste final de semana fui ao teatro assistir “A mais forte”, peça de August Strindberb, dirigida por Deusimar Gonzaga. Sempre considerei Deusimar um bom diretor, mas nesse trabalho ele conseguiu surpreender e muito. Sua direção está muito boa. Uma leitura psicológica e existencial à altura do texto deste grande autor.
As atrizes Joana Peixoto e Rita Alves estiveram muito bem, com uma carga dramática tocante e na medida. Foi muito prazeroso ver o teatro goiano assim, tão sem ter que tirar o chapéu para ninguém. Claro que pode e deve melhorar. Claro que já vimos trabalhos melhores, mas sem dúvida este espetáculo é coisa de “gente grande”. Da direção ao cenário, iluminação, tudo foi muito bom de ser ver. Tocou-me o resultado profissional.
O cenário enxuto e sugestivo de Júlio Van nos permitiu viajar sem prestar muita atenção no lugar onde se localiza aquela estação de trem. Ela, a estação, como as personagens, insinua uma época, possíveis lugares, mas muito mais importante que isto é o texto tão bem apresentado por Joana e Rita. Junior Oliveira, responsável pela iluminação, enriqueceu as sutilezas e a força dramática que ora uma ou outra atriz representava, num monólogo/diálogo singular. Mais uma vez, parabéns à direção do espetáculo ao colocar as duas atrizes representando um monólogo e, principalmente, quando uma adivinha o que a outra vai falar e fala enquanto a outra atriz dubla sua própria fala. Isto foi uma sensível e inteligente forma de nos permitir ver que o outro é nosso espelho o tempo todo. Por isto até arriscaria a dizer que a peça é sim um monólogo e não um monólogo/diálogo, mesmo quando fala uma ou a outra. Afinal, não estamos, não estivemos, sempre monologando na vida?
Mas gostaria de falar um pouco mais de Joana que me impressionou demais com sua inteireza entre corpo e alma. Ela, atriz pequenina, parecia ainda menor, pelo corpo levemente encurvado como são os corpos das esposas daquela época (que época?), do tipo que abre mão da profissão pelo marido. No entanto, quando assumia o papel da amante, ela crescia fisicamente, particularmente quando colocava a echarpe sobre os ombros. Crescia como, me lembro agora, crescia a personagem Viviane nas Brumas de Avalon. Cresceu também ao se despedir.
Mas quero falar do texto que me impressionou sempre. Sim, é um texto que impressiona. Será que tem a ver com impressionismo Deusimar?
O texto é muito bom e tocou-me além do que eu poderia supor, mesmo que já desconfiasse quando saí de casa rumo ao teatro. Tocou-me como tem me tocado todo trabalho teatral que tenho assistido nos últimos tempos. Não importa o gênero. Foi assim com Hamlet, A loba de Ray Ban, As centenárias ou a Eu, Clarice. Tenho me emocionado demais é com o teatro. Mas com “A mais forte” a emoção foi diferenciada. Participei da primeira montagem, há mais de dez anos atrás. Isto me levou a outras reflexões além da própria peça.
Sempre gostei do teatro e até fiz alguns trabalhos nesta área e o sonho de assumir este ofício de forma sistemática vive me rondando, mas ultimamente isto tem sido mais forte. Escrevendo este texto, que deveria ser só algumas impressões acerca deste espetáculo, me vejo olhando para mim mesma. Se antes eu me emocionava em comédias ou dramas, era por sentir o amor e o sonho daqueles que fazem deste ofício tão trabalhoso, a razão maior de suas vidas. Na “mais forte”, chorei copiosamente após a apresentação. Vim chorando até em casa. Chorei pela beleza do texto, pela montagem tocante, intrigante, pela evolução do teatro goiano, pelo significado social do teatro, mas principalmente porque esta peça é emblemática para mim.
Participei de sua primeira montagem feita por Deusimar. E ao assisti-la agora senti que traí meu sonho e meu amor pelo teatro. Compreendi então que tenho chorado por ter abandonado o sonho e o amor maior desta vida. Quem sabe até de outras.
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1. Célia Maria Ribeiro é socióloga, mestre em Ciências Sociais, especialista em Psicologia Transpessoal e professora aposentada da Universidade Federal de Goiás, onde atuou por vários anos como consultora interna de Desenvolvimento Humano (cmribeiro@cultura.com.br)

Um comentário:

Katia Valeria Castro disse...

Adorei o seu blog,bom saber o q passa ai,bjos